Papo de Samba
Ricardo de Moraes
Samba, carnaval e Niterói
Queridos e qualificados leitores, a coluna espera reproduzir a nossa satisfação, na medida exata de sua intensidade.
O carnaval de Niterói já está bombando e isso inclui o pré e o pós. A expectativa é de 850 mil pessoas na cidade (veja programação completa em https://www.diariodeniteroi.com.br/programacao-intensa-de-carnaval-de-9-a-25-de-fevereiro/).
Blocos e mais blocos vão reunir o que há de melhor do nosso povo: a resistência e a alegria.
Atualmente temos poucos motivos pra ficar alegres, mas deixar de expressar a nossa alegria ou inibi-la, é deixar o caminho aberto para derrota total do nosso povo.
Tempos sombrios se combate com poesia, alegria e organização popular e o carnaval é a maior prova que isso é possível.
Mas vamos direto aos pontos…
As noites de domingo na Amaral Peixoto tem sido, hora e lugar, dos ensaios técnicos das três escolas de Niterói, que desfilam no Sambódromo, do Rio. Os ensaios têm se mostrado como um grande ACONTECIMENTO.
Dez, nota dez!
Sobre as escolas, acompanhamos o fuzuê que a Viradouro tem feito nos ensaios técnicos. Nitidamente nos fez lembrar a liga que tinha a Beija Flor de algum tempo atrás, principalmente na interação comunidade /escola.
Desde o desfile de 2018 a Viradouro vem se recuperando muito bem, depois da queda do Grupo Especial. Esse ano a escola vai para o Sambódromo. Novamente, com sangue nos olhos. Isso até nos permite dizer que a escola que quiser ser campeã, tem que pensar em vencer a Viradouro.
Confetes à parte, a Unidos do Viradouro 2020, vem com o enredo “Viradouro de alma lavada”, dos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon, que evoca toda uma memória ancestral das “Marias” de Itapuã que vão à Lagoa do Abaeté, pra ganhar o sustento e se conectam com o canto.
Diz a sinopse:
“Sou Maria… de paixão vermelha, céu de nuvens brancas dos santos anjos…deixo de xindó, a alma cafuza, do pai pescador e mãe lavadeira. Alma que se une às escravas, caboclas e crioulas numa rede de sentimentos que emanam o mesmo ideal: a luta pela alforria do povo negro. Trago a memória ancestral de outras marias da minha pequena Itapuã. A Itapuã do mar aberto, leito para a mística do Abaeté”.
Um enredo de trabalho e liberdade.
Como pontos fortes da escola, temos: a liga já citada acima, a harmonia /conjunto, a bateria e a vasta experiência do casal de mestre sala e porta bandeira.
Como pontos fracos poderemos ter:
– o enredo: que pode ser resolvido com soluções surpreendentes de barracão;
– o samba: não tem a qualidade de outros concorrentes, mas funciona muito bem para o chão da escola.
Diz o samba:
“Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé Faz o seu quilombo no Abaeté Quem lava a alma dessa gente veste ouro É Viradouro! É Viradouro!”
Boa sorte Viradouro!
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Na “fila” há muito tempo a Acadêmicos do Cubango tem como enredo “A Voz da Liberdade”, sobre o advogado e escritor abolicionista Luis Gama., dos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel. Nele temos referências ao preconceito racial, aos tempos dos negros escravizados e a luta pela liberdade.
Diz a sinopse: “A GRES Acadêmicos do Cubango resgata na figura de Luiz Gama, a luta antirracista, a construção de um país melhor e uma sociedade igualitária cantando A VOZ DA LIBERDADE”!
O samba de 2020 remonta uma tradição da Cubango, de sambas fortes e melodiosos. Imediatamente lembramos os desfiles antológicos com o samba “Afoxé” de 1979 reeditado em 2009, um raro caso de samba duplamente campeão.
Podemos esperar como pontos fortes da Cubango: o tradicional ritmo folgado da bateria, a comissão de frente e o experiente casal de mestre sala e porta bandeira.
São pontos de tensão:
– Repetir os erros da harmonia de 2019.
– A evolução, que também perdeu décimos em 2019.
“Sei do meu valorNão me bote preço não, bote não senhorQue meu povo é bom de lutaAlforria fez morada em meu peitoÉ preto sim, meu legítimo direito”
Vai lá Cubango, boa sorte porque “pra ser Cubango não se conta até 3”
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Antes de qualquer coisa, queremos dar os PARABÉNS para Acadêmicos do Sossego e ao “Povo da Batalha” pelos 50 anos da escola.
O enredo do jubileu de ouro é “Tambores de Olokun”, do carnavalesco Marco Antônio Falleiros. Muito feliz, o enredo rendeu um samba excelente e também pode render um excelente desfile.
Diz a sinopse:
“Os tambores do senhor dos mares ressurgem na cidade do Rio de Janeiro sob a forma de um grupo de percussão e dança, erguendo então, o estandarte da valorização das raízes históricas do Maracatu. Tradições seculares que permanecem vivas através das Nações de Pernambuco, e no Rio de Janeiro, pelo trabalho de grupos que reúnem centenas de pessoas durante o ano e outras tantas durante o carnaval carioca”.
No samba, os dois refrões seguidos articulam o cinquentenário da escola e a secular tradição dos tambores dos maracatus de Pernambuco e ainda homenageia o bloco do Rio de Janeiro e vai além, exaltam a própria comunidade do Largo da Batalha.
“Ô gira saia, girou a secular tradiçãoNo jubileu de ouro do meu pavilhão”
“É o povo da batalhaNa imensidão do marMeu samba vai nas águas da vitóriaO infinito azul mareja meu olharPra Sossego fazer história”
Como pontos fortes da Sossego, temos:
– o enredo, o excelente samba e a bateria.
Como pontos de risco apontamos:
– a empolgação no “excesso de bossas” da bateria.
– uma possível dificuldade da harmonia, em conter um número excessivo de componentes, num desfile emblemático como o do cinquentenário.
Quebra tudo Sossego!
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Desejamos sucesso para todas as três escolas da cidade.
Semana que vem tem mais, falaremos dos desfiles da cidade e de muitas outras coisas, por enquanto, estamos indo cobrir os desfiles das escolas de samba de Vitória – ES, que acontecem nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro.
- Ao fechar a coluna tivemos a notícia da liberação de recursos, pelo prefeito Rodrigo Neves, para a construção da Cidade do Samba de Niterói, já para o Carnaval 2021.
Um ganho e tanto pra economia da cultura na cidade.
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